Caminho dos Milagres 11 a 14 setembro de 2025.
- Márcia Reis Bittencourt

- 16 de set.
- 3 min de leitura
O Caminho dos Milagres é um roteiro de aproximadamente 100 km que liga São Pedro de Alcântara SC a Nova Trento SC, levando os peregrinos até o Santuário de Santa Paulina. É percorrido durante o ano todo, não possui sinalização oficial e recebeu esse nome por sugestão do primeiro presidente e idealizador da ACACSC Sr. Talmir Duarte da Silva ( Talmir nasceu em São João Batista SC e foi professor da UFSC no curso de agronomia), ao mapear e criar o percurso.
Eu percorri esse caminho pela primeira vez há sete anos, com a Associação Amigos do Caminho de Santiago de Compostela de Florianópolis/SC. Foi um divisor de águas na minha vida porque foi o primeiro grande caminho que fiz. Hoje, sete anos depois, faço o caminho novamente com a mesma associação, talvez como um recomeço, redescobrindo os milagres escondidos em cada passo.
Caminhar pelo Caminho dos Milagres é ouvir a natureza falar em línguas invisíveis. O rio Tijucas murmura segredos ancestrais, as cachoeiras desenham arabescos sonoros e cada gota d’água é um milagre que desperta a alma. Rios e árvores tornam-se mestres silenciosos da paciência e da perseverança. O caminhar nos ensina a esperar, a perceber que o milagre não está no fim da jornada, mas em sentir cada instante, cada pedra, cada riacho, cada suspiro do vento.

Dia 1 – São Pedro de Alcântara a Angelina (29 km)
Saí de Canelinha SC( cidade onde moro) às 4h da manhã, fui de carro a Florianópolis e de lá de ônibus com a associação até São Pedro de Alcântara, onde iniciamos a caminhada.
São Pedro de Alcântara foi a primeira colônia alemã em Santa Catarina, povoada em 1829 por imigrantes das regiões de Hunsruch e Eifel, no sudeste da Alemanha. A cidade e os arredores preservam até hoje a cultura e as tradições dos fundadores.
O clima frio e úmido tornou a caminhada muito agradável. Durante o trajeto, caminhamos margeando o rio, que corria ao nosso lado, enquanto passávamos pelo município encontramos o Bar da Figueira, onde pudemos descansar, beber e comer algo. Pelo caminho, casas típicas, um museu, um alambique e casarões antigos, alguns conservados e outros abandonados, nos lembravam a história que nos rodeava. Chegamos à cidade de Angelina, nossa meta do dia, deslumbrados com a beleza natural do percurso.
Dia 2 – Angelina a Major Gercino (28 km)
O dia começou na Igreja de Angelina, com a bênção do Padre Francisco. Suas palavras foram profundas: “No caminhar nunca estamos só. As aflições fazem parte da jornada, assim como na vida; elas nos ensinam a perseverar.”
Percorremos o trajeto margeando a Barragem do Garcia, inaugurada em 1963, o primeiro empreendimento da CELESC em geração de energia elétrica, seguida pelo rio das Antas.
Pelo caminho, encontramos padarias, bares e supermercados, reforçando a hospitalidade que torna o Caminho tão especial.
Dia 3 – Major Gercino a São João Batista (27 km)
Começamos às 8h, após alongamento e oração. A primeira conquista do dia foi atravessar a ponte pênsil sobre o rio Tijucas, permitindo duas pessoas por vez.
O percurso incluiu uma aldeia indígena Guarani, oratórios e o bairro Colônia, primeira colônia italiana do Brasil, preservando tradições que remontam aos imigrantes pioneiros. Alguns momentos caminhei em silêncio, absorvendo a proximidade com Deus, enquanto em outros conversava com os amigos do caminho.
Dia 4 – São João Batista a Nova Trento (Vígolo) – 17 km
Saímos às 8h, em um percurso mais curto e tranquilo, passando por bairros rurais silenciosos e bucólicos. Ao chegar no centro de Nova Trento, visitamos a igreja matriz antes de adentrar o Santuário de Santa Paulina.
O santuário é um refúgio para a alma: caminhos verdes, flores, cachoeiras, pássaros cantando e animais vivendo livremente. Durante o trajeto, encontramos duas peregrinas que não haviam tomado café da manhã porque as padarias estavam fechadas. Um gesto simples de hospitalidade de uma padaria de São João Batista – um café e um prato com pães – fez toda a diferença e nos lembrou que o Caminho é feito de milagres pequenos, mas profundos.
Reflexão Final
Mais de 100 km a pé revelam que o Caminho dos Milagres é muito mais do que um percurso físico: é uma jornada de autoconhecimento, contemplação e conexão com o divino e com a natureza.
Cada passo é uma oportunidade de aprender, cada som da água, do vento e das folhas é um convite à meditação. Caminhar aqui ensina que a verdadeira graça está no momento vivido, que cada desafio, cada dor e cada gesto de bondade revelam os milagres que nos cercam, invisíveis, mas profundamente sentido.
Márcia Reis Bittencourt






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