Autor: Jairo Ferreira Machado
Perto havia um cajueiro que floria no outono e dava os primeiros frutos no início da primavera, ali, o habitat preferido do jacaió que se aninhava no buraco do barranco próximo, eles olhavam o pássaro voar e levar no bico um inseto voejante pego num voo certeiro, então ela perguntou se seria para o filhote ou para a companheira que estaria lá no ninho, não tinha certeza, ele disse, podia ser uma coisa ou outra, ela sorriu o seu riso de covinhas no rosto, encantada com a presteza do pássaro retornando de lá a cada momento, os olhos lacrimosos, decerto, em consequência das variações de luzes ou da falta dessa, quando dentro do buraco ou encarando a luz do sol à espreita de outro inseto voejante passando por ali, para ela aquele pássaro era especial, bem poderia ir pra longe daquele cajueiro, mas voltava sempre ao mesmo lugar, ao mesmo galho, obsequioso, queria saber agora daquele menino, se ele faria a mesma coisa, quando um dia eles se casassem – falo de um era romântica, antes dos fiquei descompromissados de agora em que namoro e poesia já não andam juntos – e ele pegou-lhe a mãozinha macia, olhou-a bem dentro dos olhos e disse que sim, ela sorriu novamente o seu riso de covinhas no rosto, numa ingenuidade incomum, depois se foram caminho afora, mas paravam a todo instante, ele tentando pegar das frutinhas do physalis à beira do caminho uma borboleta pra ela, era uma borboleta multicolorida fulgida, fugidia, ela sorria, dizendo que o jacaió era mais esperto que ele, encabulado, ele desistiu, mas um dia haveria de presenteá-la com um buquê de noiva da cor daquela borboleta, disse-lhe, e ela sorriu o seu riso de covinhas no rosto...
Depois, recolheu uma frutinha do physalis e ofereceu a ele, já que não podia oferecer o agridoce de seus lábios, não ainda, mas um dia, quem sabe...
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