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Foto do escritorJairo Ferreira Machado

Em tempo!

Atualizado: 18 de mai.


Autor: Jairo Ferreira Machado


O céu se revestira de um colorido sépia-ouro naquela tarde quando ela foi embora e ele ficou ali, os olhos refletindo o ocaso, já imaginando a solidão daquela noite quando as estrelas se revelassem no firmamento, não era noite de lua cheia, e os grilos começassem a chirriar, grilos sempre se acompanham de silêncio, e o quarto estaria vazio da voz dela e sua cama, os lençóis esticados e as fronhas trocadas, para nada, ou quase nada além da sua tristeza, agora estava em pé ao lado da cama, olhando a mesinha de cabeceira com o retrato de casamento, o largo riso de contentamento dela naquele dia, tinham jurado fidelidade na alegria e na tristeza, os dois, agora um friozinho entrava pela janela do quarto, vinha do quintal da casa e trazia o aroma inconfundível das rosas que ela mesma plantara no outono para que florissem na primavera, sem saber que não estaria mais ali quando o jardim florescesse, tampouco ele acreditava, bateu forte no peito para que a dor se explodisse em pranto, mas seus olhos se negavam a acreditar e a chorar, talvez ela não merecesse, ou seu amor-próprio dissesse que não, que não deveria chorar, então se deitou olhando o vazio do teto, e não é que o desgraçado do grilo começou a chirriar, grilos sempre se acompanham de solidão, e já sentiu o peito se arfar e a respiração descompassou e veio-lhe o pranto, como um jorro de cacimba irrompendo da terra, fluindo de seus olhos, e como aquilo foi bom, mais um pouco e se explodiria, e de repente entrou pela porta um vulto a principio apenas um vulto desenhando a silhueta de um rosto conhecido e uma voz macia de há muito conhecida, e se jogou de inteira sobre o seu peito e selou sua boca com a maestria dos lábios carregados de batom, trazendo o gosto inconfundível de cio, não, ela não suportara a idéia dele ali, sozinho, deitado em sua cama, o aroma das rosas entrando por sua janela e as estrelas, ainda que lá no céu, também eram suas, em qual outro lugar teria estrelas tão brilhantes alumiando suas noites, em qual jardim teria rosas assim, em qual momento encontraria amor igual, ou homem que a amasse tanto, numa límpida cama tendo as estrelas como únicas testemunhas? Assim, voltara!

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