Autor: Jairo Ferreira Machado
Nenhuma estrela no céu, o tempo nublado, imóvel e frio tem cheiro do nada, nem sequer um ventinho que fizesse as folhas das arvores darem sinais de vida, o cão deitado do lado de fora da porta, indolente parece dormir, a rua triste como calado em si estava todo o bairro, para onde teriam ido as pessoas, os latidos de cães, os miados de gatos acasalando pelas madrugadas, somente um e outro ruído de motor de carro passando lá distante, a luz do abajur acesa, alguns livros sobre a mesinha de cabeceira, escolheu um, espiritualidade, não agradou, a quietude já aborrecia os seus sentimentos, deleitou-se em Dalton Trevisan, cenas eróticas foram aflorando das páginas, interessante como as palavras precisam apenas de um olhar de compreensão e já criam asas, voam conosco, enlevando os nossos sentidos e sentimentos, fazendo transbordar a química que imaginávamos sepultada no nosso corpo, e feitas sementes no seio da terra germinam ao ruído da primeira chuva, palavras-vida que se exprimem de um jeito borbulhante, pulsando forte o coração e tudo vai se acrescendo ali nas gônadas abaixo do umbigo e transborda (quem sabe!) ou fica somente na imaginação, agora, lá fora um miado de gato ou uivo de cão no cio, um buchicho de carnaval, um rebuliço de alma, e já um vento-sul, arrasta para o mar a quietude da noite...
Rebuliço de Alma
Atualizado: 10 de mai.
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